Com a produção de vídeos e mapa cultural, estudantes passaram de aprendizes a multiplicadores das manifestações culturais no bairro de Parafuso
Preocupados com o pouco engajamento dos jovens nas atividades culturais do bairro de Parafuso, em Camaçari (BA), estudantes da Escola Municipal Eustáquio Alves de Santana criaram o projeto Mestres Mirins da Cultura Popular. A iniciativa busca reforçar a cultura popular local como forma de resgate da história e da identidade das pessoas da região.
“A gente tem muita cultura em Parafuso, e isso faz parte da nossa história. Se a gente não pensar nisso e não participar, as pessoas que virão depois não vão nem saber o que existiu”, conta Maria Eduarda Pires, de 15 anos.
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Pensando nisso, os estudantes se juntaram e começaram a pesquisar: conheceram os mestres da cultura local, aplicaram questionários, investigaram a história e tradição por trás de cada uma das manifestações tradicionais da região e produziram um mapa cultural de Parafuso.
Com esse levantamento, os jovens se tornaram “mestres mirins” , estimulando o surgimento de novos praticantes e destacando o que há de bom no bairro, o que muitas vezes não é o foco dos noticiários. “Parafuso é uma comunidade pequena e antes muita gente nem queria sair na rua porque achava que era um lugar perigoso. Com o projeto, a gente mostra para os jovens que tem muita coisa legal pra fazer e participar”, explica Maria Eduarda.
Parafuso mostra que, apesar de ser um bairro pequeno, é gigante quando se trata de diversidade de expressões da cultura popular. “É um lugar que tem três quadrilhas juninas, duas fanfarras – a Fanpop (Fanfarra Popular de Parafuso) e a Fanesp -, além [da festa do] Boi Janeiro e do Boi Mirim, o Samba de Caboclo e o Samba de Cosminha”, enumera a educadora orientadora do projeto, Cristiane de Araújo Ferreira.
Tradição oral: história viva do bairro
O nome do bairro veio de um acontecimento incomum: um trem descarrilou e o vagão que transportava um monte de pinos que se pareciam com parafusos tombou, espalhando os objetos pelo local. Esses “parafusos” serviriam para a fixação dos trilhos e foi a própria construção da linha férrea que desenvolveu a região. Essa, como tantas outras, é uma história contada de geração a geração pelos moradores.
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É também por meio do boca a boca que a história é compartilhada e se mantém viva. Percebendo isso, os estudantes conversaram com os líderes para conhecer mais as atividades culturais da região. Foi assim que o projeto começou e foi se desenvolvendo.
Cultura popular de cara nova
Para a aluna Maria Eduarda, o maior desafio foi convidar e convencer os colegas de que valia a pena participar da Festa do Boi Mirim e demais atividades. Ela conta que muitos não viam sentido na iniciativa e estavam desanimados. “Acho que é porque, hoje, todo mundo tem celular, até criança, e todo mundo fica muito na tecnologia e não consegue viver de verdade, ver o lado bom da vida”, analisa a estudante.
Mesmo os que não se animaram tanto ao início se envolveram e fortaleceram o projeto. É o caso da Rebeca dos Santos, de 14 anos: “eu aprendi a valorizar mais o que eu tenho em meu bairro ao chamar outras pessoas para fazerem parte das nossas festas”.
Ao pensar nas memórias, Maria Eduarda conta que especial mesmo foi o momento da apresentação, chamada por ela de culminância do projeto. Ou seja, a hora de compartilhar o aprendizado para além dos muros da escola. “Foi muito legal apresentar o projeto para a comunidade – tiveram barraquinhas sobre cada manifestação cultural de Parafuso e contamos a história para as pessoas que foram assistir. Muita gente não sabia a história por trás de tudo o que acontece”.
Curta Parafuso: como tudo começou
O Mestres Mirins da Cultura Popular é um desdobramento de outro projeto realizado na E.M. Eustáquio Alves de Santana, o Curta Parafuso, em que os estudantes fizeram pequenos vídeos que documentam com imagens e entrevistas algumas das manifestações culturais que acontecem na comunidade.“No final, fizemos o lançamento desses curtas e contamos também com a participação da comunidade”, conta a educadora Cristiane.
A conclusão do projeto Curta Parafuso não foi um final, mas sim o início de um uma nova empreitada. “A partir daí, as meninas que manifestaram interesse e já participavam das manifestações culturais locais foram convidadas a fazer parte desse novo projeto”. O conhecimento que adquiriram por meio do Curta Parafuso inspirou a criação do projeto Mestres Mirins da Cultura Popular, que transformou aquelas que estavam aprendendo em verdadeiras multiplicadoras da cultura local.
Futuro de uma história viva
Mesmo em um momento de pandemia do coronavírus, marcado pelo isolamento social e, consequentemente, pela suspensão das atividades, não há desânimo por parte dos jovens que aprenderam, na prática, o valor de participar e explorar as tantas atividades culturais de Parafuso, como reflete Maria Eduarda.
“Com o isolamento, a gente fica pensando muito. Fica pensando até se vai ou não ter futuro. Quando tudo isso passar, acho que as pessoas vão estar mais dispostas a participar das manifestações culturais e fazer com que a nossa história continue viva”.
O projeto Mestres Mirins da Cultura Popular recebeu menção honrosa no Desafio Criativos da Escola 2019, que recebeu mais de 1443 inscrições de todos os estados do Brasil. O Desafio premia projetos protagonizados por estudantes que estão transformando suas escolas e comunidades.
Redação: Marina Finicelli
Edição: Gabriel Salgado e Helisa Ignácio
Parabéns pelo projeto e atividades. Sucesso. Manter a história viva , faz toda a diferença ,para a atual e futuras gerações.