Projeto apresenta uso novo e sustentável para plantas encontradas nos quintais da comunidade de Coruripe (AL)
O shampoo está em 91% dos lares e é um dos itens de higiene e beleza mais utilizados pelos brasileiros, segundo levantamento da Associação de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Mas, apesar de o shampoo fazer parte do nosso dia a dia, você já parou um minuto para ler o que há no rótulo do produto?
Sabe o que são os ingredientes ácido salicílico, piritionato de zinco ou lauril sulfato de amônia que constam no frasco do seu shampoo? A lista de produtos químicos é longa e, ao invés de ajudar, eles podem agredir os fios.
+ Leia mais: Óleo vira sabonete
Pensando nisso, um grupo de estudantes do ensino médio da Escola Estadual Graciliano Ramos, de Coruripe, zona rural de Palmeira dos Índios, em Alagoas, se juntou para apresentar uma solução que fosse sustentável para a comunidade e, ao mesmo tempo, pudesse gerar renda.
Depois de várias conversas durante as atividades da disciplina Projetos Integradores, a solução surgiu literalmente olhando para o próprio quintal: a planta de palma.
“Ela está presente na maioria das casas e é característica do Nordeste, só que sempre foi usada apenas para alimentação de animais. Observando o pelo do gado você vê que são muito macios e brilhantes, então pensamos que talvez a planta também pudesse trazer benefícios para os nossos cabelos”, explica a jovem Laisa Brandão, de 18 anos.
Shampoo natural testado e aprovado
Sob a orientação da professora Amparo Nunes, as adolescentes desenvolveram o projeto “Cuidando da saúde dos cabelos”, iniciativa que recebeu menção honrosa na última edição do Desafio Criativos da Escola.
Laisa e as colegas Sabrina Duarte, Daysiane Lopes, Lauane Melo, Paula Nunes e Renata Soares começaram pela pesquisa bibliográfica e se surpreenderam com os nutrientes e benefícios da palma. Apesar de muito semelhante à babosa, a planta é ainda mais rica, sendo uma fonte de vitamina A, ferro e, principalmente, colágeno, o que ajuda a nutrir e fortalecer o cabelo, combater a queda dos fios e evitar a caspa.
+ Conheça: Jovens criam catálogo com mais de 70 espécies de plantas medicinais
Para tirar a prova dos benefícios da palma, o grupo fez um primeiro teste, em casa mesmo, nos próprios cabelos. Cortaram as folhas de palma ao meio, retiraram toda a pasta interna e bateram no liquidificador com água, até atingir a textura de um shampoo comum.
Deu certo, mas ainda faltava um detalhe: a espuma. Foi quando elas partiram para entrevistas com moradores da comunidade e descobriram que, antigamente, o juá era muito usado para escovar os dentes e fazia bastante espuma. Foi feito um segundo teste caseiro, com pedaços de casca de juá, o que deixou o shampoo espumoso, sem a necessidade de produtos químicos.
Como não tinham acesso a um laboratório de química na escola, o grupo conseguiu apoio no Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Lá puderam analisar o xampu e verificar se o produto não faria mal ao couro cabeludo.
O novo desafio era a conservação do produto que durava, no máximo, dois dias.”Fomos orientadas a substituir a água mineral por água destilada e a usar um frasco escuro, ambos para aumentar a validade do produto”, relata a educadora Amparo.
+ Leia mais: Estudantes de Barreirinha (AM) transformam Amazônia em sala de aula
No laboratório, as estudantes fizeram um experimento de observação com dois frascos do shampoo: um escuro e envolvido em papel alumínio e outro em recipiente transparente. No 11º dia, o shampoo do frasco escuro estava com cor e cheiro normais, e o que estava em frasco transparente havia estragado.
Foi feita, ainda, a medição do PH (abreviação para potencial hidrogeniônico), que indica a acidez, alcalinidade ou neutralidade de um produto. Com orientações no laboratório, as adolescentes verificaram que o PH shampoo de palma e juá estava igual ao de um shampoo de supermercado, podendo ser usado normalmente.
Para finalizar, faltava só a fragrância. Como a ideia era um produto final 100% natural, o alecrim, erva comum na comunidade, foi escolhido pelo cheiro e por ser um aliado no combate à queda, oleosidade excessiva e caspa. “Quando vimos o produto pronto foi emocionante. Não sabíamos se ia dar realmente certo”, conta Laisa.
Plano para além da comunidade
Renata Mendes, outra integrante do grupo, se sente orgulhosa ao lembrar da apresentação do shampoo pronto para os moradores da comunidade de Coruripe, apesar do estranhamento inicial. Ela conta que, apesar de muitas pessoas rirem por conhecerem a palma apenas como alimento de rebanho, elas topariam usar o produto.
A estudante relatou ainda que se os moradores aprovassem o produto seria muito bom, pois a palma está presente em todos os quintais. “Foi uma experiência inesquecível. Eu me senti útil por fazer parte de um projeto que pode ser uma forma das pessoas cuidarem do cabelo sem ter gastos e com um produto 100% natural”.
Na esperança de que o shampoo de palma e de juá seja acessível a mais pessoas, os planos das estudantes é patentear o produto e conseguir apoio de instituições ou empresas para prosseguir com o projeto. “Queremos uma parceria que nos leve para frente”, almeja Renata.
Redação: Helaine Martins
Edição: Helisa Ignácio
Deixe uma resposta