Alunas de Cabo de Santo Agostinho (PE) montam grupo de teatro com proposta inclusiva
Vitória, Júlia e Williane, alunas do 8º ano da Escola Municipal Professor Antônio Benedito da Rocha, de Cabo de Santo Agostinho (PE), município que fica a 37 quilômetros de Recife, queriam muito participar das aulas de teatro da professora Evânia Copino. No entanto, as estudantes não conseguiam se comunicar direito com os demais colegas por possuírem deficiência auditiva e acabavam ficando de fora, apesar de amarem teatro.
Ao perceberem o interesse e a vontade das três em fazerem parte do grupo, os alunos ouvintes e a professora acolheram o desafio e resolveram criar uma trupe inclusiva. Idealizaram o “Teatro Sem Palavras” que é um grupo composto por vinte participantes: dezessete ouvintes, duas alunas surdas e uma com deficiência auditiva.
Para participar do grupo é preciso ter mais do que vontade de atuar: é necessário querer aprender uma nova forma de comunicação. Todos os participantes são inseridos no mundo da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e começam a se expressar com as mãos. As encenações são realizadas por meio de traduções de músicas e poesias para Libras. A inspiração? As obras do mestre do cinema mudo Charles Chaplin. Para aprimorar o trabalho com o grupo, a professora está cursando uma pós-graduação em Libras.
A iniciativa das estudantes abriu caminhos para que novas amizades fossem formadas e trouxe luz para o cenário que, antes, era triste para as alunas que não participavam. Vitória Santana, que escuta apenas parcialmente, conta o impacto que a iniciativa teve na sua vida social. “Ninguém sabia Libras e eu era muito só, mas quando entrei no teatro todos começaram a me chamar para perguntar sobre os sinais, porque eles não entendiam. Eu fiz amigos e ajudei todo mundo a entender mais sobre Libras”, diz.
A aluna Tamires Silva, que é ouvinte, também revela entusiasmo pelas novas amizades. “Para mim o teatro foi importante porque me aproximei das colegas com deficiência. Muitas pessoas as discriminam, não dão valor”, explica. Danille Rebouças, também ouvinte, reforça o vínculo entre elas. “Somos todas amigas, elas me ajudam e eu ajudo elas”, conta.
“Estamos construindo um ambiente seguro e igualitário, onde todos são respeitados e aceitos”, conta a professora Evânia. “Isso os faz confiar e revelar suas potencialidades, que vão além das deficiências e/ou fragilidades que todos nós apresentamos”, continua. Com o teatro, os alunos estão desenvolvendo a socialização, o cuidado consigo e com os demais e o sentimento de pertencimento ao grupo, rompendo as barreiras da exclusão.
Há mais de três anos, o município de Cabo de Santo Agostinho, está sem um teatro para receber novos espetáculos. Hoje, as peças do grupo entram em cartaz no auditório da escola, que recebe muitos estudantes e moradores da cidade para prestigiar as montagens. Williane da Silva, aluna surda, conta em Libras o sucesso de sua participação: “eu amo o teatro porque me apresento para as pessoas e elas me parabenizam pelo meu entusiasmo”.
Mais do que incluir as meninas no contexto escolar, todos foram inseridos na realidade das alunas surdas e a escola passou a ser um espaço de aprendizagem e quebra de barreiras. “Foi interessante aprender Libras, quero ser intérprete”, comemora a aluna Danille. E complementa: “se não fosse esse curso de teatro, eu nunca teria falado com as minhas colegas surdas”.
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Marianne Estermann e Estefania Lima
Foto/Reprodução: Ascom da SME/Cabo
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Parabéns, que Deus abençoe. Gostaria que tivesse em outras escolas também minha filha é deficiente auditiva e tenho certeza que ajudaria muito no desenvolvimento dela.