Estudantes do ensino médio do interior da Bahia conscientizam a população sobre a importância de rio que abastece a cidade e cobram do poder público local melhorias na gestão de seus recursos naturais.
O rio Corrente, que atravessa a Bahia e deságua no caudaloso São Francisco, é um importante meio de sobrevivência para a cidade de Santana e, principalmente, para seu distrito, Porto Novo. Apesar de abastecer estações de tratamento de água em toda a região e ser fonte de sustento para inúmeros pescadores e para as comunidades ribeirinhas, suas águas não são nada plácidas: vários esgotos afluem no Corrente, a mata ciliar está devastada, não há lixeiras em sua proximidade e, por falta de sinalização, banhistas esporadicamente se acidentam – inclusive mortes já foram registradas.
Educandos do 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Edvaldo Flores, localizado em Santana, na Bahia, decidiram “arregaçar as mangas” e unir esforços para mudar o triste cenário desse rio que passa em suas vidas. Elaboraram um projeto que recebe um nome que já resume toda a ideia: “Implantação de lixeiras, sinalização nas margens do Rio e retirada de esgoto”.
“Em minhas idas ao rio Corrente, eu percebi sua importância em nossas vidas e todos seus problemas”, conta a educanda do 3º ano do ensino fundamental, Barbara Heloisa Santos Sousa. “A água que bebemos vem dele, nos finais de semana ele é muito frequentado para lazer, mas, sem placas de sinalização, já aconteceram tragédias. Procurei minha professora e falei: temos um problema”, relembra ela.
“O rio abastece não só nossa cidade, mas também outras três vizinhas, e não podia ficar como estava. Precisávamos reflorestar suas margens, fazer com que o nosso rio fosse cuidado da melhor forma possível”, conta Laisa da Mata Silva, que também cursa o 3º ano do Ensino Médio.
Conscientizar para transformar
Depois de ser contatada por Bárbara, a educadora Deise Nery organizou uma visita para começar um diagnóstico da situação. O rio Corrente não atravessa, diretamente, a área urbanizada de Santana, porém banha o distrito de Porto Novo, localizado a poucos quilômetros da escola. “Não tínhamos como ir até lá. Pedimos um ônibus para a Prefeitura. Demoraram, mas, enfim, conseguimos”, conta Laisa.
Lá, promoveram encontros com moradores da comunidade nos finais de semana, visitaram casas e debateram sobre os problemas do rio. Constataram que o esgoto de inúmeras casas era canalizado para o Corrente. “Foi com esse trabalho inicial que surgiu a ideia do projeto, já que não havia saneamento nem lixeiras ou placas de sinalização em torno do rio”, afirma Deise.
Segundo os estudantes, devido a ocupação precária das terras que margeiam o rio (que conta com cerca de 400 pessoas), os moradores não tinham consciências de todos esses problemas. Foi necessário, portanto, realizar atividades para mobilizar a comunidade sobre a necessidade de uma mudança na forma de se relacionar com o rio e exigir ações efetivas do poder público na gestão dessa área.
“A comunidade nos apoiou nessa campanha, gostaram da iniciativa, afinal, era um problema que estava ali, bem visível, e ninguém tinha tomado iniciativa para mudar. Eles acordaram para os problemas do rio Corrente que precisavam ser solucionados”, relata Bárbara.
Ocupar os espaços de políticas públicas
Educadores e estudantes aportaram recursos próprios e instalaram algumas lixeiras em pontos de grande circulação nas margens do rio. Os alunos também conseguiram, por meio da Escola Família Agrícola da região, a doação de inúmeras mudas de árvores e, em uma ação de reflorestamento, mas também de conscientização da comunidade, realizaram o plantio nas margens do rio Corrente. “As margens estavam abertas, sem árvores, e com essa iniciativa solucionamos o problema”, comemora a educadora Deise.
Também decidiram influir na construção da política local, exigindo do poder público providências em relação a situação do rio Corrente. “Escrevemos um projeto de lei e apresentamos na Câmara Municipal de Vereadores”, conta Bárbara. “Muitos vereadores, mas nem todos, gostaram da proposta. Um deles disse que compraria lixeiras do seu próprio bolso”, conta Bárbara.
A Câmara Municipal justificou que, para qualquer providência, principalmente em relação à sinalização e ao fluxo de esgoto despejado no Corrente, seria necessária uma aprovação do prefeito. Um pedido de reunião foi efetuado à Prefeitura. Meses se passaram e, até hoje, a reunião não foi agendada.
“O que conseguimos, efetivamente, foi reflorestar alguns trechos do rio e implantar as lixeiras. A nossa reivindicação de sinalização nas margens, de saneamento e de canalizar o esgoto ainda não foram atendidas”, conta, frustrada, Deise.
Os alunos afirmam que voltarão à Câmara para exigir, ao menos, uma resposta. “As pessoas devem ter consciência de que não podem só tirar do rio e de nossas matas, mas também contribuir para que nossos recursos naturais não acabem”, conclui Laisa.
Redação: Rôney Rodrigues
Edição: Juliana Gonçalves
Imagens: Divulgação
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