Estudantes de Poços de Caldas (MG) criam revista eletrônica para estimular leitura entre adolescentes.
Quem melhor do que adolescentes para dialogar com outros jovens, não é mesmo? Foi isso que os educandos de 14 a 18 anos, da Associação Casa da Árvore, de Poços de Caldas (MG), pensaram ao criar a “Revista Página 9 ¾”. O nome da publicação, que possui atualizações semanais, foi inspirado na história do bruxo Harry Potter. Na fábula, o número 9 ¾ representa uma plataforma na estação de trem de Londres que leva os personagens para um mundo fantasioso e cheio de magias. “A escolha do nome [da revista] foi uma polêmica, mas a maioria de nós amamos a obra, por isso o escolhemos”, conta o estudante Otávio Augusto.
O conteúdo é todo planejado e produzido por um grupo de 14 alunos de escolas públicas da cidade e trata de assuntos relacionados à literatura e juventude. “A proposta é conectar literatura e tecnologia para incentivar os jovens a ler mais”, explica Otávio.
Além de produzirem um site com resenhas de livros e indicarem quadrinhos, sugestões de leitura e de aplicativos para smartphones, o grupo criou também um canal no Youtube e uma página no Facebook, onde publicam vídeos sobre diferentes gêneros literários, criam situações inusitadas e filmam para entender a reação das pessoas, e entrevistam outros adolescentes.
Escrevendo a própria história
“Nos juntamos com os adolescentes e eles deram a ideia de produzir uma revista para incentivar outros jovens a se tornar leitores”, explica a coordenadora do projeto na Associação Casa da Árvore, Leila Dias. Segundo ela, a possibilidade começou a partir de uma missão dada pela Biblioarte Lab, iniciativa da Associação que fez um chamado a alunos de escolas da cidade para que ressignificassem o espaço da biblioteca municipal. “Foi muito bacana a participação de cada um para iniciarmos a revista”, opina o estudante Daniel Paulino.
A primeira questão levantada pelos estudantes foi a falta de acesso a canais de comunicação dedicados à literatura e que fossem feitos por jovens. Segundo o grupo, as publicações que encontravam, na maioria das vezes, vinham de pesquisadores ou especialistas que não dialogam com o universo adolescente. ”A gente resolveu então fazer do nosso jeito para mostrar que ler não precisa ser chato ou cansativo”, destaca o educando Otávio.
O projeto iniciou em fevereiro do ano passado e, desde então, o grupo vem se reunindo uma vez por semana para pensar em pautas e produzir novos conteúdos. “Nos dividimos em algumas equipes, como de escrita criativa, os booktubers e o pessoal da arte e design”, orgulha-se Otávio. Os booktubers, por exemplo, incentivam aqueles que não têm o hábito da leitura literária espontânea, por meio de vídeos com relatos de suas experiências pessoais.
A voz dos estudantes
“No início, nem sempre concordávamos sobre o que escrever. Nossa primeira matéria demorou muito tempo para ser finalizada, mas agora é muito mais fácil”, conta Otávio sobre o processo de aprendizagem e alinhamento de expectativas entre o grupo. No entanto, segundo ele, o projeto ainda enfrenta desafios como a verba reduzida para criação e logística da equipe. “Os alunos recebem uma pequena bolsa para viabilizar o transporte até a biblioteca, mas alguns moram muito longe e isso acaba dificultando um pouco a produção. Alguns acabaram saindo [da Revista] porque precisavam de mais renda”, conta Leila. Além da bolsa, a Associação busca contribuir oferecendo aos estudantes formações sobre comunicação e meio digital.
“A gente começou a receber reconhecimento e isso é muito gratificante, porque estamos muito mais feras”, conta Daniel sobre o atual momento do grupo. Já para o futuro da Revista, Otávio sonha: “queremos falar sobre outros assuntos e, também, que o projeto cresça para que outros jovens se interessem em ir às bibliotecas por prazer”.
Para além do processo de produção semanal do grupo, Leila destaca a importância da transformação pessoal dos estudantes que têm participado do projeto: “vejo hoje uma vontade enorme que eles têm de produzir. Eles compreendem mais o que é a importância da comunicação e estão muito mais críticos”.
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação
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