Além dos Muros da Escola

Estudantes mobilizam comunidade e transformam bairro da zona leste de São Paulo (SP)

“Aprender não é só ficar dentro de uma sala quatro horas por dia escrevendo, escrevendo e escrevendo. A gente tem que ter uma visão mais ampliada do que é o mundo”, avalia o estudante Cristian Alves, do 7º ano do ensino fundamental da EMEF Assad Abdala, localizada na zona leste da cidade de São Paulo. Junto com outros alunos e alunas do 6º, 7º e 9º ano, Cristian realiza o projeto “Para além dos muros da escola: intervindo no Jardim Maringá”, um dos premiados no Desafio Criativos da Escola 2016 (Clique aqui e veja como foi a premiação do Desafio Criativos da Escola 2016).

Mobilizando os moradores do bairro, o grupo tem transformado o entorno da escola ao revitalizar praças, o Clube da Comunidade (CDC Unileste), o “escadão” e um muro próximo ao colégio. “Agora temos uma aula onde você aprende em outros ambientes e muito mais do que em uma sala. Com as entrevistas com a comunidade aprendemos língua portuguesa, com o trabalho de arquitetura trabalhamos com matemática”, exemplifica a aluna do 9º ano, Isabella Sanz. E complementa: “a gente não está indo ali somente para revitalizar o bairro, mas como uma parceria para o nosso currículo e para o nosso aprendizado”.

O projeto faz parte da proposta pedagógica dos Trabalhos Colaborativos de Autoria (TCA’s) – desenvolvidos por todos os estudantes do ciclo autoral (7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental) da rede municipal de ensino -, com o objetivo de promover ações que transformem a realidade em que os alunos estão inseridos. No caso da EMEF Assad Abdala, o projeto provocou tanto a escola que a gestão escolar expandiu suas ações também para o 6º ano, fazendo com que os alunos fossem protagonistas e os professores assumissem o papel de tutores. (Veja neste link também os Planos de Navegação do TCA para alunos e professores)

“As tutorias servem também para os alunos que têm menos interesse ou que não gostam de matemática, por exemplo, mas se sentem a vontade para fazer as atividades propostas na tutoria de arquitetura e urbanismo”, explica a aluna do 7º ano, Jeniffer Alves, citando as seis tutorias em que se dividiram os estudantes do projeto: “Mosaico do escadão; Pintura do muro do escadão; Histórico do Jardim Maringá; Comunicação e divulgação; Lazer e eventos que cuida do Clube da Comunidade; e Arquitetura e urbanismo”.

Integrante da tutoria Histórico do Jardim Maringá, a estudante do 6º ano, Giovanna Martins, relata as ações que têm desenvolvido com seu grupo: “a gente descobre a história do bairro com a ajuda da comunidade, com fotos, reportagens antigas e registros. Com isso, a gente mostra para os novos moradores como é e como ele surgiu. As pessoas não tem uma visão boa do bairro, porque não conhecem ele muito bem”.

Surgimento do projeto
“Porque vivemos em um lugar tão feio?”. Esse foi o ponto de partida para o grupo começar a pensar em possibilidades de transformação do local, para a realização desse sonho coletivo: viver em um bairro mais bonito e com opções de lazer e brincadeiras fora do horário de aulas. Segundo Cristian, os próprios alunos não valorizavam a região onde está a escola. “A gente tinha vergonha de passar pelo bairro que era sujo, ruim. E por saber que ele era todo degradado. Hoje a gente sente orgulho de ter conquistado, de ter conseguido ajudar”, afirma o aluno.

Em discussões iniciais, diversos espaços vieram à tona, mas dois chamaram mais a atenção na hora da votação: uma escadaria pública do lado de uma ocupação onde alguns dos estudantes moravam e que era escura e deteriorada; e o Clube da Comunidade, um espaço de lazer extenso, com quadras de esporte e natureza, que fora muito utilizado anteriormente, mas que estava completamente abandonado e sem iluminação adequada.

A escadaria ao lado da escola foi então reformada, o Clube voltou a estar aberto para a comunidade e, além de recepcionar festas típicas da escola, passou a receber aulas do colégio, expandindo os espaços de aprendizagem para além dos muros da escola.

Parceria com a comunidade
Apesar de ter conseguido o reconhecimento e o apoio da comunidade, os estudantes relatam algumas das dificuldades que tiveram que enfrentar. “Quando a gente chegou o preconceito era muito grande principalmente no Clube da Comunidade. Demorou para a gente conquistar a confiança dos moradores, mas a gente conseguiu o reconhecimento deles”, conta a aluna Isabella Sanz. E complementa Cristian: “uma fábrica de tinta nos ajudou pintando tudo de branco, mas um dia algumas pessoas foram lá e pixaram o muro. Aí pintamos de branco novamente, escutamos o que os moradores gostariam que fosse pintado e continuamos”.

Para Isabella, o projeto reforçou o vínculo com a comunidade e ajudou a reeducar tanto os alunos quanto os moradores do Jardim Maringá: “não adianta você ir lá toda quarta-feira e limpar o espaço se no outro dia o morador for lá e depositar o lixo”. Segundo ela, os integrantes do grupo visitaram casas do bairro para pedir a ajuda dos moradores. “Tocamos muitas campainhas, tivemos muitos ‘nãos’, mas conseguimos bastante azulejo, argamassa, pincel e tudo o que a gente precisava para conseguir fazer o trabalho”, relata a aluna.

Como próximos passos, os estudantes têm continuado a revitalização de outros espaços do bairro e agora reivindicam que seja feita a iluminação do escadão próximo à escola. “Agora está maravilhoso, está lindo”, avalia Isabella.

Assista ao vídeo dos estudantes do projeto Além dos Muros da Escola:

Veja mais fotos da iniciativa: