Valorizando o conhecimento de idosos do município, jovens de Rio do Antônio (BA) criam catálogo com mais de 70 espécies de plantas medicinais.
A planta Losna ajuda a combater as cólicas menstruais, a planta Buscopan contribui com o combate a dores de cabeça e a planta Arruda pode ser utilizada no tratamento de doenças cardíacas. Estas são apenas três das 73 descobertas de estudantes do 1º, 2 e 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual do Rio do Antônio, do município Rio do Antônio (BA), ao realizarem catálogo de plantas medicinais da região.
Provocados pela professora do Clube de Ciências da escola a elaborarem trabalho sobre plantas medicinais, os alunos começaram a dar vida ao projeto “Utilização de plantas medicinais no município”, um dos premiados no Desafio Criativos da Escola 2016. “Aplicamos questionários na comunidade para mais de 50 idosos e percebemos que eles tinham um conhecimento muito grande sobre as plantas, mas que poderia ser ainda maior e que nós poderíamos ajudar”, explica o estudante Wesley Lima. (Clique aqui e confira como foi a premiação e a vivência do Desafio Criativos da Escola 2016)
Além de trazer as informações obtidas com a comunidade, o catálogo apresenta o nome científico de cada planta, seu uso e suas contraindicações. “Quando montamos o livro, a gente percebeu que teria que ir além das informações que os idosos poderiam nos passar. Teve um conhecimento obtido pela comunidade e um esforço nosso para estudar mais a fundo cada planta”, conta Wesley.
Elaborando o catálogo, o grupo também observou que a maior parte desse conhecimento estava se perdendo ao longo do tempo e que muitos jovens não reconheciam a importância das plantas na cura de determinadas enfermidades e nem seus riscos se utilizados de maneira incorreta. “As atuais gerações, até pela praticidade, vão à farmácia e compram o remédio. [O tempo] vai passando e [as pessoas] esquecem suas raízes e que essas plantas podem substituir os medicamentos. Dá para perceber que o conhecimento dos idosos é amplo, mas é pouco valorizado”, destaca o aluno Raul Guedes.
De acordo com Wesley, uma das pessoas mais importantes para o projeto foi a Dona Zezinha, 65 anos, que possui uma barraca na feira livre da cidade: “ela contava histórias fascinantes e nos ajudou em quase 90% do projeto. A Dona Zezinha vive em uma comunidade da zona rural do município que é muito carente e se mostrou muito envolvida com o trabalho. Muitos idosos falavam que os netos e os filhos não se interessavam pelo assunto e nem por ouvir suas histórias”.
Falta de infraestrutura
Apesar da motivação dos estudantes, o grupo enfrentou dificuldades diante da falta de laboratório e de equipamentos adequados na escola. “Para identificar a planta, a gente precisava de um microscópio ou de um estereomicroscópio, mas a gente não tinha e ficou muito complicado”, relata a professora orientadora do projeto Eloísa Martins.
Como alternativa, o grupo realizou uma parceria com outra escola do município. “Fizemos uma miniaula sobre microscopia e depois os alunos do grupo foram tentar identificar as plantas no microscópio. Porém essa parceria não durou e ficamos limitados pela falta de recursos e de equipamentos”, relata Eloísa.
Para serem catalogadas e armazenadas em segurança, as plantas precisam ser prensadas entre placas de madeira e desidratadas em uma estufa. Orientados pela professora e utilizando sua criatividade, os alunos criaram suas próprias ferramentas para solucionar o desafio.
Para construir a prensa, por exemplo, o grupo contou com a ajuda de um marceneiro, que cortou os moldes de madeira. Já para montar a mini-estufa, utilizou diversos materiais como lâmpadas, isopor e papel alumínio. Os estudantes também fizeram uma janelinha de vidro para acompanharem o desenvolvimento do processo sem precisar abrir o recipiente antes do período necessário. “Colocamos [as plantas] dentro da estufa por uma ou duas semanas e começamos a fazer as exsicatas [que são amostras de planta prensada]. Para isso, costuramos as plantas com linha de nylon e etiquetamos com informações medicinais e populares da planta”, descreve a aluna Samira Barbosa.
Ainda sobre as dificuldades enfrentadas, Raul aponta a necessidade de apoio para ampliarem as ações do projeto: “conseguimos uma sala para guardar os materiais, mas não temos recursos nenhum. Para trabalhos futuros, para um resultado melhor, a gente precisa de apoio porque tem muita coisa que fica inviável tirar do nosso próprio bolso”.
Veja mais informações sobre a premiação Desafio Criativos da Escola.
Dividindo o conhecimento
A experiência do projeto foi tão boa que, aos poucos, os integrantes estão compartilhando esse conhecimento com todos os moradores do município. “A essência do trabalho está, principalmente, no compartilhamento de algo que não sabíamos, mostrando para os idosos que o conhecimento deles está imortalizado com o catálogo na biblioteca da escola, na biblioteca municipal, na Feira de Ciências e nos eventos que participamos”, defende a professora Eloísa.
Para a aluna Samira, o sonho agora é fazer com que o projeto ganhe mais visibilidade e que o conhecimento sobre as plantas medicinais possa passar para as próximas gerações. “Um objetivo do grupo é que o projeto não seja só um trabalho municipal, mas que se torne um trabalho [de catalogação de plantas medicinais] de todo o estado”, complementa Wesley.
Assista ao vídeo dos estudantes do projeto Plantas Medicinais:
Veja mais fotos da iniciativa:
Redação: Gabriel Maia Salgado
Amei, gostaria de ter este arquivo, sou professora pesquisadora…Parabéns…
Olá professora. Estamos fazendo algumas melhorias, mas Ass que estiver pronto disponibilizamos os arquivos. Abração.
Parabens aos envolvidos. Gostaria de saber se pretendem disponibilizar algum formato digital para consulta.
Att.
Francisco
Estamos providenciando em formato digital. No momento estamos fazendo algumas alterações para que possa ser disponibilizado da melhor forma possível. Abração
Parabéns professores e alunos pelo trabalho. Atividades com plantas medicinais sempre rendem bons trabalhos. Sou professora de Ensino Fundamental Séries Finais e gosto muito deste tema.
Tive o privilégio de acompanhar o trabalho desta equipe competentíssima, através do programa Ciências na Escola. Foram muitas dificuldades, mas eles são exemplo de superação. iniciando pela estrutura física da escola, inexistência de laboratório, entre outras… no entanto, eles demonstraram que quando a gente QUER faz acontecer!
Não me cansarei de parabeniza-los!
Sou nutricionista clinica, especialista em Gerontologia e esse trabalho realmente me encantou! Que ele sensibilize quem tem acesso ao dinheiro público, para que vocês recebam o apoio necessário. Parabéns!
Olá! Sou pesquiadora de plantas medicinais e gostaria muito de fazer um trabalho desse aqui onde moro, uma cidade caiçara no litoral norte de São Paulo. Gostaria de saber mais detalhes e trocar informações para que a gente pudesse fazer um trabbalho parecido por aqui também. Parabéns!
Muito legal este projeto! Leciono ecoturismo em duas escolas municipais e estou pesquisando com os sétimos anos plantas nativas da Mata Atlântica. Criaremos cadernos-registro por turma na segunda etapa. Construiremos ainda um cantinho de fitoterápicos como alternativa à horta. É uma satisfação muito grande conseguir motivar nossos alunos e imagino a imensa alegria de vocês ao desenvolverem este projeto tão lindo! Parabéns a todos os envolvidos!
mto lindo e valorizador o trabalho d vcs ,parabéns os idosos são os guardiões da memoria
Com certeza, Neia! Agradecemos pela leitura. Abraços!
OLÁ.. Achei fantástico esse projeto, sou professora de ciências em um colégio particular da minha região, interior do Paraná… gostaria muito de entrar em contato com este projeto, vcs já tem em formato digital? Abraço enorme e PARABÉNS!!