ParaColeta

Jovens criam lixeiras com pneus usados e provocam discussão sobre sustentabilidade em Paraisópolis, São Paulo (SP).

Para amenizar o problema do descarte inadequado de lixo pelas ruas de Paraisópolis, bairro periférico da zona sul de São Paulo (SP), quatro jovens da ONG Pró-Saber, que oferece atividades no contraturno escolar para crianças e adolescentes, decidiram reciclar materiais e criar lixeiras para espalhar pela comunidade. Ao todo, já foram construídas 35 desde o início do projeto, em 2015. 

Com tinta spray, pneus velhos, equipamentos para corte e muita criatividade, o grupo cria lixeiras e faz sua personalização com frases e desenhos para incentivar o uso pelas pessoas do bairro. Além da confecção das lixeiras, os estudantes também realizam oficinas para conscientizar moradores sobre os temas de consumo adequado e sustentabilidade, compartilhando quais foram as técnicas utilizadas para produzir os recipientes a partir de pneus descartados. A iniciativa fez tanto sucesso que os jovens passaram a oferecer workshops para outras organizações, escolas e empresas.

“Qual seu sonho para Paraisópolis?”

Um dos marcos do projeto foi a participação na Mostra Cultural de Paraisópolis, em setembro de 2015, em que os jovens espalharam pelo espaço lixeiras com a seguinte pergunta “Qual seu sonho para Paraisópolis?”. Para a educadora que orientou o projeto, Manoela Moreira, o evento cumpriu seu papel porque “a comunidade foi impactada durante a exposição, possibilitando uma reflexão sobre o território”.

Segundo o membro da equipe Matheus Ferreira, 17 anos, as crianças são as principais influenciadas pelo projeto ParaColeta. ”A mudança que estamos fazendo agora é com cada criança que participa das nossas oficinas. E nós não estamos apenas construindo lixeiras, estamos discutindo desde já sobre sustentabilidade”.

Menos lixo, mais reciclagem

A decisão de trabalhar a partir do tema da reciclagem dos resíduos sólidos surgiu após os estudantes conversarem com pessoas da comunidade. “Depois das entrevistas, concluímos que havia poucas lixeiras por Paraisópolis e contamos com a ajuda de um artista da região para coletar os materiais que utilizamos em nossa produção”, conta o estudante Gabriel Silva, 17 anos. A partir do apoio recebido, o grupo também estabeleceu uma parceria com a Associação de Catadores de Paraisópolis, para que pudessem coletar os materiais recicláveis descartados nas lixeiras.

De acordo com a educadora Manoela, a importância do projeto se dá pela construção coletiva que envolve tanto os jovens quanto moradores da própria comunidade. “Com as lixeiras nas ruas um importante passo foi dado para que as pessoas do bairro joguem o lixo no local correto e separem o que for reciclável dos outros materiais orgânicos, fazendo parte da construção de um mundo melhor”.

Para Matheus, um dos maiores desafios que o grupo enfrentou foi a perda de algumas lixeiras já espalhadas pela comunidade. No entanto, os jovens se mantêm firmes no processo de transformação e diálogo com a população. “A situação mais legal foi quando um aluno chegou para mim e falou que estava seguindo a risca nossas dicas. Essa é a principal devolutiva que podemos receber pelo que ensinamos, que as crianças levem os ensinamentos para a vida”, destaca Gabriel.

Para o futuro da iniciativa, Gabriel sonha: “eu quero que o projeto aumente e que a comunidade cresça junto. Espero que o ParaColeta seja uma referência para as pessoas em relação à reciclagem, porque ele nasceu a partir um problema que existe aqui mesmo em Paraisópolis”, conclui.

Redação: Vanessa Ribeiro

Edição: Gabriel Maia Salgado

Imagens: Divulgação

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